Comentando o Programa Encontro

Comentando o Programa Encontro

Se você é nos segue nas nossas redes sociais já percebeu que estávamos passando por uma reforma em nosso conteúdo, nossa equipe estava usando 10 dias sabáticos (que ficaram só um pouquinho maiores)  para ouvir mais as pessoas e tirar inspiração para criar coisas novas. Porém algo provocou um grande agito em toda comunidade de disléxicos presente nas mídias sociais, sendo um dos conteúdos mais compartilhados: o Programa Encontro com Fátima Bernardes, exibido no dia 14 de abril, que tratava justamente de… dislexia.

Assim como muita gente, por conta do horário, não consegui acompanhar o programa (correria de estagiário, sabe como é né?), então assim que cheguei em casa fui no site da Globo TV (só clicar aqui) para ver o que a galera tanto falava. Confesso, me surpreendeu de uma forma muito positiva, e as partes que mais me chamaram atenção elenco a seguir:

Curiosidade Cientifica

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Uma coisa que eu realmente não sabia é o que foi comentado pelo Dr Fernando, neurologista e consultor do programa, há pesquisas que indicam uma probabilidade maior da criança nascer com dislexia quando a mãe, no período de gestação, tem uma alta produção de testosterona (sempre soube que minha mãe era cabra macho hahaha).

Dislexia é Papo Recente

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Outra coisa me chamou bastante atenção, foi quando a estudante de medicina Patrícia, 31 anos, falou que em seu período de alfabetização, há 25 anos atrás, a dislexia era praticamente algo que ninguém falava. Não é preciso nem ir tão longe, no meu período, há 14 anos atrás (praticamente 10 anos ao da convidada) muitos professores ainda não estavam preparados para lidar com a dislexia.

Também me identifiquei bastante quando a convidada relatou que quando a professora lia algo na sala, ela decorava com muita facilidade, a ponto da mãe achar que ela estava lendo o texto. Me lembro quando eu tinha 8 anos (gostaria de saber se a dislexia tem alguma coisa haver com o fato de eu lembrar muito facilmente de muita coisa da minha infância…) a professora mandou uma tarefa de casa do texto “Marcelo, Martelo, Marmelo” da Ruth Rocha, e antes da aula acabar ela leu o texto para a gente. Ao chegar em casa minha mãe pediu “Ok Felipe, lê o texto aí, deixa eu ver se você entendeu”. Eu “li” tudo perfeitamente sem travar em nada – só que não. Na verdade, eu tinha decorado tudo, palavra por palavra (acho que teria me dado bem como ator mirim).

 A Dificuldade é Normal no Início

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A Dra. Renata Mousinho, fonoaudióloga, outra convidada do programa, falou uma coisa muito sensata no meu ponto de vista, no início trocas de letras e leitura arrastada fazem parte do processo normal de alfabetização, só que a criança sem dislexia deslancha mais rápido – por isso a avaliação multidisciplinar é tão importante para o bom diagnóstico. Muito legal ouvir a doutora falar isso, pois me fez lembrar da época que eu precisei de uma fono: quando eu tinha 8 anos eu desenvolvi gagueira, pois a professora botava tanta pressão para ler e ainda meus colegas riam da minha cara quando eu errava que minha fala entrou em curto-circuito.

Se Colocar no Lugar do Próximo

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Outra coisa que apreciei bastante no programa foi mostrar como é a escrita e o funcionamento do cérebro de um disléxico, achei isso show de bola pois traz a ideia de “calçar os sapatos do aluno”, faz com que as pessoas se coloquem no lugar do disléxico e vejam como ele enxerga o mundo das palavras.

O Diagnóstico Poderia Sair Mais Rápido

O doutor Fernando falou que o diagnóstico para dislexia é na verdade um diagnóstico de exclusão; isso significa que deve-se verificar se a visão está legal, se o aparelho auditivo funciona de forma adequada, se não tem questões emocionais ou sócio-culturais envolvidas… Ae vem uma opinião minha baseada em minha vivência pessoal: eu acho que se perde muito tempo em todo esse processo. Vou explicar melhor. Calhou das minhas dificuldades na escola acontecerem na mesma época que o divórcio dos meus pais, então os três primeiros psicólogos com quem passei “batiam o pé” que minhas dificuldades eram por causa do meu suposto “turbilhão emocional” (olha, não vou confirmar nem desmentir isso, mas darem uma solução tão direta sem fazerem qualquer tipo de avaliação me fizeram perder um tempo precioso). Outro profissional sugeriu que talvez eu tivesse que usar óculos, então fui lá eu para um oftalmologista que descobriu minha miopia (isso foi bem legal pois os óculos me dão um dar de “intelectual”, mas ainda nenhuma avaliação ou teste para dislexia tinha sido feita). Percebe onde eu quero chegar? Enquanto estava pulando de profissional em profissional, que deduziam e especulavam as mais diferentes coisas, eu tomava um pau atrás do outro na sala de aula. Antes que falem, não duvido que excluir todas as possibilidades seja importante, mas acabei perdendo um tempo precioso pois nada se revertia em uma melhora efetiva dentro da escola.

“Sou Disléxico” Falo ou Não Falo?

Gostaria de comentar sobre a atris Letícia Colin (Eliza na Novela 7 Vidas), ela foi até a ABD (Ass. Brasileira de Dislexia) conversar com nossa amiga Maria Angela Nico para buscar informação ao compor a personagem, então por essa iniciativa ela está de parabéns. Confesso, não vejo a novela, mas como foi “beber da fonte” creio que o resultado tenha ficado ótimo. Durante o programa, Letícia comentou o caso do seu primo de 2º Grau que é disléxico, e como forma de “superação”, ele abre não das facilidades que tem direito (mais tempo de prova, letra maior, etc). Cabe um parêntesis: na minha vivência (me senti até velho agora haha), mais especificamente na fase de pré-adolescência, eu tinha muita vergonha de usar esses direitos pois tinha receio de alguem me zoar ou coisa parecida. Quando eu desencanei desse pensamento, lá pelos meus 15 anos, é que as coisas mudaram de figura: eu usava e abusava dos meus direitos nas provas e quando alguém vinha me perguntar o porquê da minha prova ser diferente, eu simplesmente falava “sou disléxico amigão”. A partir do momento que tornei isso público para meus colegas, muita gente vinha me ajudar. Como diria o rei Salomão “Se um cair, o amigo poderá ajuda-lo a se levantar” (Eclesiastes 14.10) – no secreto eu ficava “sofrendo” calado, mas quando tornei isso conhecido, abri espaço para que muita gente entrasse em minha vida e fizesse a diferença.

Só concluindo, eu apreciei bastante o programa. E eu torço de verdade para que isso não se torne apenas mais uma discussão da modinha, que a partir disso, novas idéias, novas projetos, novas iniciativas possam surgir.

3 Comentários


  1. Entao.. Vi o programa, foi bem legal. Ando assistindo programas q falam da dislexia e esclarecem que nao e uma deficiencia intelectual….. Pippo, me desculpe n entrar muito em contato, acontece que fui assaltada e pegaram meu celular( um instrumento muito util em minha vida.) mas acompanho seus posts aqui e suas conquistas no Face. Abraco, saudades da galera do Whats.

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  2. Eu acredito que não devemos ter vergonha das dificuldades, seja devido dislexia, TDAH, Autismo… entre outras. Muito pelo contrário, percebo que embora essas crianças, adolescentes, adultos possuam alguma “limitação”, no sentido de requerer um tempo maior em determinadas atividades; em contrapartida, percebo um potencial grandioso para realização de outras atividades. Eu tenho uma filha disléxica, hoje com 8 anos, lido com as dificuldades sem ser do tipo “pressão”. Tento, ajudá-la a melhorar nesses quesitos. O dia a dia tem que ser de busca. O amadurecimento emocional é super importante para olhar as dificuldades de forma diferente. Não para olhar como um coitadinho, não, mas para mostrar uma pessoa em desenvolvimento diário, e que consegue superações e realizações gigantescas. Tem um filme: O primeiro aluno da classe, que retrata uma criança com Síndrome de Tourette, e se torna um renomado professor. (baeado em fatos reais). No depoimento final do filme, ele diz que chegou onde chegou devido a Tourette, sendo a alavanca necessária para traçar o caminho percorrido. É isso.

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