Questões Importantes sobre o Diagnóstico da Dislexia

Questões Importantes sobre o Diagnóstico da Dislexia

Uma das maiores dificuldades que os pais enfrentam é conseguir fechar o diagnóstico da dislexia. Muitos alegam que são encaminhados de um profissional a outro, mas não conseguem,  de forma efetiva, concluir o laudo do que seu filho precisa. Como a demanda no serviço público é enorme, alguns partem para o tratamento particular, mas acabam interrompendo a avaliação, por não disporem de recursos financeiros suficientes para custear o processo. Infelizmente, quem mais sofre são as crianças e adolescentes que já poderiam estar passando por intervenção e, consequentemente, otimizando seu processo de aprendizagem.

O que fazer quando perceber os sinais de dislexia

O primeiro passo é buscar um psicopedagogo. É ele quem vai iniciar o processo de investigação, através de uma avaliação psicopedagógica. Além de acolher, ouvir e compreender a queixa trazida pela escola e família, vai verificar alguns aspectos muito importantes como por exemplo, as competências iniciais para a leitura e a escrita. Em seguida, orientará os pais sobre quais profissionais será necessário procurar para confirmar (ou não) a hipótese levantada de transtorno de Dislexia do Desenvolvimento.

Em seguida, se iniciará a “maratona” (mais de uma vez, já ouvi pais usarem esse termo para nomear o processo de investigação do transtorno) com a ajuda de uma equipe interdisciplinar composta por vários especialistas.  Segundo Dr. Klay Brites (2019), neuropediatra e palestrante da Neurosaber, dentre os profissionais que compõem essa equipe devem estar o fonoaudiólogo, o psicólogo, o neuropsicólogo, o neuropediatra, o psiquiatra infantil, entre outros.

Para Dr. Rafael Pereira (2013), doutor em Ciência da Educação e especialista em Dislexia e dificuldade de aprendizagem, o processo de avaliação pode incluir:

  1. Anamnese;
  2. Exame visual com processamento visual;
  3. Exame auditivo com timpanograma e teste de processamento auditivo central;
  4. Avaliação cognitiva;
  5. Avaliação emocional;
  6. Avaliação das competências iniciais para a leitura e escrita;
  7. Avaliação da psicomotricidade;
  8. Avaliação da memória visual;
  9. Avaliação da memória auditiva;
  10. Avaliação da discriminação auditiva;
  11. Avaliação da maturidade perceptiva;
  12. Avaliação de velocidade de leitura;
  13. Avaliação da leitura de pseudopalavras;
  14. Avaliação dos processos de leitura;
  15. Avaliação da escrita;
  16. Avaliação da linguagem oral (dos 8 anos aos 10 anos) ou avaliação da idade de leitura (dos 10 anos em diante).

São realmente necessários todos esses testes?

Na maioria das vezes, SIM! Não só é necessário como fundamental! Como o Diagnóstico da Dislexia é fechado por exclusão, deve-se eliminar toda e qualquer possibilidade que possa estar interferindo na aquisição de leitura e escrita de forma adequada. Infelizmente, um dos erros  mais graves que  ainda percebo,  é ficar aguardando fechar o laudo para começar a intervir nas dificuldades que a criança ou o adolescente apresenta. Como já mencionei, perde-se um tempo precioso em que muitas situações adversas como desmotivação, baixa assiduidade na escola e, até mesmo, evasão escolar poderiam ser evitadas.

Outro equívoco muito comum, é deixar de lado o potencial e brilhantismo do transtorno, como afirma  a fonoaudióloga Renata Jardini (2015 ).  Há uma tendência em  focar apenas o aspecto  “doente” dos disléxicos, o  seu ponto fraco , lançando  um “olhar despotencializante e patologizante” (Souza,  2018) sobre eles, impedindo-os de perceberem os fatores fortes da dislexia  como um “ótimo nível intelectual; criatividade acima do esperado; facilidade em quebrar paradigmas; genialidade; inventividade; aptidões intuitivas e artísticas; facilidade em desenvolver a inteligência emocional” (Jardini, 2015) , dentre tantos outros.

Afinal, o  que muda com o Diagnóstico da Dislexia?

Apesar da criança ou o adolescente que apresenta o Diagnóstico da Dislexia ainda não poder usufruir de forma legal de um tutor (professor auxiliar), algumas adaptações em sala de aula podem ser feitas e favorecerão (e muito!!!) um melhor desempenho acadêmico deles. A Dra. Raquel Guimarães Del Monde (2019), pediatra e psiquiatra infantil, destaca algumas adaptações em sala de aula que, quando feitas de maneira adequada,  contribuem significativamente no avanço do processo de aprendizagem desses alunos:

  • Fornecer cópia pronta da lousa;
  • Dar preferência a textos mais curtos e objetivos;
  • Leitura de enunciados em voz alta e assistência individualizada;
  • Maior tempo para execução de tarefas e avaliações;
  • Considerar a realização de provas orais;
  • Deve haver um cuidado na escolha de livros paradidáticos, pois deve estar adequada às habilidades do aluno, podendo ser diferenciada em relação à classe;
  • A introdução da letra cursiva deve ser pensada caso a caso;
  • Não devemos nos ater rigidamente a uma ou outra abordagem específica na alfabetização (para alguns, o construtivismo pode ser favorável e para outros – neuroatípicos em geral –   o método fônico é a melhor escolha);
  • Evitar expor o aluno em situações como leitura em voz alta;
  • Ter bom senso na correção ortográfica da produção do aluno (priorizar regras relevantes e combinar com o aluno como serão cobradas);
  • Oferecer apoio da escrita (uso de modelos) ou ensino oral de Língua Estrangeira.

Lembrando que essas adaptações devem estar alinhadas entre todos os que atendem a esse sujeito aprendente, ou seja, família, professores, pedagogos, fonoaudiólogos bem como a equipe pedagógica da instituição escolar onde a criança ou adolescente está matriculado.

A articulação e a integração de toda a  equipe interdisciplinar, impedirão que as “habilidades e potencialidades dos disléxicos  sejam podadas” ( Davis, 1942) e permitirão  a eles  perceber  “os dons da dislexia”  (Davis, 1942) fazendo com que não tenham mais medo ou vergonha  de declararem que apresentam o transtorno, ao contrário, sentirão orgulho e “privilégio de serem disléxicos” . (Pippo, 2014).

Seu filho tem dislexia e está precisando de ajuda? Escreva para mim:

Maria Silvana – ABPp 13265

  • Psicopedagoga Clínica – Sinapses
  • Psicopedagoga Clínica – AMEE, Santo Antonio de Posse – SP
  • Professora de Língua Portuguesa

3 Comentários


  1. Perfeito o artigo. Meu filho é dislexo. E sou pedagoga. Uma luta e incansável exaustão. Exigi tanta paciência, não se mais minha ou dele.

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  2. Prezado Pippo, na lista de locais que realizam diagnóstico para dislexia não aparece nem Pernambuco e Alagoas, terias algum contato em um desses dois estados? Moro em Garanhuns, Pernambuco, distante de Recife 230km e maceió 185km. Obrigado!

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  3. Sou mãe de um lindo garoto de 9 anos , no final de 2019 procurei psicologa devido mudança de comportamento apresentado por ele , em 2020 apos exames recebemos o diagnostico de DPAC sendo acompanhado pela neuropsicóloga, 2021 iniciou reabilitação com a fono em cabine,2022 continuava em acompanhamento com otorrino e psicologa e fono realizamos novamente exame para DPAC e outros, obtendo resultado positivo (reabilitado ) ….imaginávamos que as dificuldades na escola fosse apenas decorrente ao DPAC porem conforme orientada pela neuropsicóloga retornamos para nova avaliação apos 1 ano em 2023 recebendo novo diagnostico depois de todos testes realizados de dislexia. Hoje ele continua em acompanhamento com a fono devido a troica das letras em busca de neuro infantil para acompanhar e conseguir o relatório ,porque por mais que tenha as avaliações da psicologa neuropsicóloga e fono o relatório com CID ainda não consegui …. Estou na tratativa com com a escola que quer reprovar meu filho devida a troca das letras etc…
    Agradeço pelas orientações obtidas neste site .

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